Desafios e caminhos
para a formação de professores no Brasil
Um bom professor tem um papel fundamental na vida do
seu aluno. A decisão sobre como devem ser formados os novos profissionais
impacta no projeto educacional de qualquer nação. Com as mudanças constantes nas
formas de aprender e ensinar, os cursos de licenciatura devem preparar os
futuros professores para dialogarem com a nova realidade da sala de aula,
atuando como mediadores e designers de aprendizagem.
Para estimular o debate sobre a
preparação dos novos profissionais, o Porvir aproveita a celebração do Dia dos
Professores (15) para lançar a série de reportagens Formação de Professores,
que apresenta o cenário atual, desafios e caminhos para a formação inicial no
país.
De acordo os dados do Censo da Educação Superior 2013
(último levantamento divulgado), existem 7.900 cursos de licenciatura na área
de educação espalhados por todo país. Neste ano, mais de 200 mil alunos foram
licenciados (56% pela modalidade presencial e 44% pelo ensino à distância).
Porém, especialistas na área apontam que muitos cursos ainda estão bastante
distantes da realidade da sala de aula.
Em 2010, ingressaram 392.185 alunos em cursos de
licenciatura na área de educação. Após quatro anos, o número de concluintes
chegou a 201.011. No ano de 2013, das 990.559 vagas que foram oferecidas,
apenas 468.747 foram preenchidas (152.397 em instituições públicas e 316.350 em
privadas). Segundo Valeska Maria Fortes de Oliveira, pesquisadora da UFSM
(Universidade Federal de Santa Maria) e coordenadora do grupo de trabalho de
formação de professores da ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação), a atração de profissionais para o ingresso na carreira
docente é um dos primeiros entraves para a formação inicial no país.
A formação é um dos itens que, de acordo com a
pesquisadora, integra a chamada condição docente, constituída por carreira,
salário e condições de trabalho. “A forma com que se trata o professor é um dos
primeiros problemas que hoje enfrentamos para atrair alguém para dar aula no
Brasil”, diz Oliveira, ao analisar a necessidade de valorização da carreira.
O PNE (Plano Nacional de Educação) dedica quatro de
suas 20 metas aos professores: prevê formação inicial, formação continuada,
valorização do profissional e plano de carreira. Para que se tenha uma dimensão
do trabalho que o país tem pela frente, entre os 2,2 milhões de docentes que
atuam na educação básica do país, 24% não possuem a formação adequada, conforme
dados do Censo Escolar 2014. “Se nós não cuidarmos dos professores da educação
básica, estamos fadados a continuar tendo dados educacionais de baixo nível”,
afirma a pesquisadora Bernardete Gatti, vice-presidente da Fundação Carlos
Chagas.
O cenário contrasta com a meta número 15 do PNE, que
prevê que todos os professores da educação básica tenham formação específica de
nível superior, obtida em curso de licenciatura na área em que atuam. Para
Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a
formação inicial no país ainda é muito frágil. “Ela é insuficiente em relação
às demandas das próprias leis brasileiras”, afirma. Cara explica que para se
aproximar das metas é preciso começar a tratar o plano como prioridade.
Dentro das medidas adotadas no primeiro ano de
vigência do PNE, em julho de 2015, foram divulgadas as novas diretrizes para a
formação de professores, elaboradas pelo CNE (Conselho Nacional de Educação). O
documento aumenta o tempo mínimo de formação para os cursos de licenciatura,
que passam de 2.800 para 3.200 horas. Além disso, os cursos deverão contar com
mais atividades práticas, aproximando os futuros professores do cotidiano da
escola.
Aproximação entre teoria e prática
As novas diretrizes tentam lidar com um
dos principais gargalos da formação de professores no país: a articulação entre
teoria e prática. Segundo Paula Weiszflog, coordenadora geral de pós-graduação
e extensão do Instituto Singularidades, de São Paulo, muitos profissionais saem
da universidade com o domínio do conteúdo, mas com pouca base didática. “Ele
[professor] chega na sala de aula totalmente despreparado porque não sabe como
passar aquele conteúdo que viu”.
Para Miguel Thompson, diretor da mesma instituição, a
experiência de alunos na universidade ainda está muito concentrada no lado
acadêmico. “Elaborar um paper se tornou mais importante do que fazer um plano
de aula. Essa questão tem que ser debatida”, ressalta, ao mencionar que algumas
licenciaturas estão formando biólogos, físicos e matemáticos, mas não
professores de biologia, física e matemática.
Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, avalia
que a situação requer medidas que vão além de ajustes. “Nosso grande problema é
fazer uma espécie de revolução na formação de professores”. Segundo a
pesquisadora, as licenciaturas não estão estruturadas para formar um professor.
“Elas não formam bem nem no conhecimento específico e nem nas didáticas e
práticas de ensino necessárias para uma atuação nas escolas. “
Fonte: Portal
Porvir
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