sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Especialistas apontam que cursos de licenciatura ainda estão distantes da realidade em sala de aula.

Desafios e caminhos para a formação de professores no Brasil    

Um bom professor tem um papel fundamental na vida do seu aluno. A decisão sobre como devem ser formados os novos profissionais impacta no projeto educacional de qualquer nação. Com as mudanças constantes nas formas de aprender e ensinar, os cursos de licenciatura devem preparar os futuros professores para dialogarem com a nova realidade da sala de aula, atuando como mediadores e designers de aprendizagem.
Para estimular o debate sobre a preparação dos novos profissionais, o Porvir aproveita a celebração do Dia dos Professores (15) para lançar a série de reportagens Formação de Professores, que apresenta o cenário atual, desafios e caminhos para a formação inicial no país.
De acordo os dados do Censo da Educação Superior 2013 (último levantamento divulgado), existem 7.900 cursos de licenciatura na área de educação espalhados por todo país. Neste ano, mais de 200 mil alunos foram licenciados (56% pela modalidade presencial e 44% pelo ensino à distância). Porém, especialistas na área apontam que muitos cursos ainda estão bastante distantes da realidade da sala de aula.
Em 2010, ingressaram 392.185 alunos em cursos de licenciatura na área de educação. Após quatro anos, o número de concluintes chegou a 201.011. No ano de 2013, das 990.559 vagas que foram oferecidas, apenas 468.747 foram preenchidas (152.397 em instituições públicas e 316.350 em privadas). Segundo Valeska Maria Fortes de Oliveira, pesquisadora da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e coordenadora do grupo de trabalho de formação de professores da ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), a atração de profissionais para o ingresso na carreira docente é um dos primeiros entraves para a formação inicial no país.
A formação é um dos itens que, de acordo com a pesquisadora, integra a chamada condição docente, constituída por carreira, salário e condições de trabalho. “A forma com que se trata o professor é um dos primeiros problemas que hoje enfrentamos para atrair alguém para dar aula no Brasil”, diz Oliveira, ao analisar a necessidade de valorização da carreira.
O PNE (Plano Nacional de Educação) dedica quatro de suas 20 metas aos professores: prevê formação inicial, formação continuada, valorização do profissional e plano de carreira. Para que se tenha uma dimensão do trabalho que o país tem pela frente, entre os 2,2 milhões de docentes que atuam na educação básica do país, 24% não possuem a formação adequada, conforme dados do Censo Escolar 2014. “Se nós não cuidarmos dos professores da educação básica, estamos fadados a continuar tendo dados educacionais de baixo nível”, afirma a pesquisadora Bernardete Gatti, vice-presidente da Fundação Carlos Chagas.
O cenário contrasta com a meta número 15 do PNE, que prevê que todos os professores da educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área em que atuam. Para Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a formação inicial no país ainda é muito frágil. “Ela é insuficiente em relação às demandas das próprias leis brasileiras”, afirma. Cara explica que para se aproximar das metas é preciso começar a tratar o plano como prioridade.
Dentro das medidas adotadas no primeiro ano de vigência do PNE, em julho de 2015, foram divulgadas as novas diretrizes para a formação de professores, elaboradas pelo CNE (Conselho Nacional de Educação). O documento aumenta o tempo mínimo de formação para os cursos de licenciatura, que passam de 2.800 para 3.200 horas. Além disso, os cursos deverão contar com mais atividades práticas, aproximando os futuros professores do cotidiano da escola.

Aproximação entre teoria e prática

As novas diretrizes tentam lidar com um dos principais gargalos da formação de professores no país: a articulação entre teoria e prática. Segundo Paula Weiszflog, coordenadora geral de pós-graduação e extensão do Instituto Singularidades, de São Paulo, muitos profissionais saem da universidade com o domínio do conteúdo, mas com pouca base didática. “Ele [professor] chega na sala de aula totalmente despreparado porque não sabe como passar aquele conteúdo que viu”.
Para Miguel Thompson, diretor da mesma instituição, a experiência de alunos na universidade ainda está muito concentrada no lado acadêmico. “Elaborar um paper se tornou mais importante do que fazer um plano de aula. Essa questão tem que ser debatida”, ressalta, ao mencionar que algumas licenciaturas estão formando biólogos, físicos e matemáticos, mas não professores de biologia, física e matemática.
Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, avalia que a situação requer medidas que vão além de ajustes. “Nosso grande problema é fazer uma espécie de revolução na formação de professores”. Segundo a pesquisadora, as licenciaturas não estão estruturadas para formar um professor. “Elas não formam bem nem no conhecimento específico e nem nas didáticas e práticas de ensino necessárias para uma atuação nas escolas. “




Fonte: Portal Porvir 

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