quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Software gratuito auxilia no ensino de autistas.


José é aluno de Mara há algum tempo. Quando entrou na escola, tinha muita dificuldade de aceitar as atividades propostas pela professora e estava cada vez mais afastado de seu aprendizado maior: socializar-­se. Mas essa história começou a ser reescrita com a ajuda do software Aproximar, no qual José trabalha a comunicação e a interação social, dificuldades típicas de quem tem autismo clássico.
Criado em 2014 pela Universidade de Brasília, o programa conta com vídeos que apresentam os gestos a serem reproduzidos pelo aluno. São ações cotidianas ­ como mandar um beijo, fazer sim e não com a cabeça, bater palmas ou até mesmo dar um tchau ­, mas que significam grande avanço para o desenvolvimento social de autistas. A interação entre o estudante e o computador à sua frente é feita por meio de um Kinect, aparelho que funciona como um sensor de movimentos.
O programa foi desenvolvido pelo Projeto Participar, mantido pela universidade, que tem como objetivo softwares educacionais gratuitos para estudantes com autismo e deficiência intelectual. Multidisciplinar, o grupo é formado por pedagogos, designers, profissionais de audiovisual e alunos de Ciência da Computação da UnB. Coordenador do projeto, Wilson Veneziano conta que são os próprios alunos que desenvolvem os softwares. Com o Aproximar não foi diferente: trata­-se do projeto de conclusão de curso de Alexandre Silva e Eduardo Andreotti.
Segundo Veneziano, o grupo busca preencher a lacuna desse tipo de ferramentas. "Há uma grande carência de softwares na área, uma vez que as empresas não veem pessoas com deficiência como um público interessante em termos comerciais", diz Veneziano, que também é professor de Departamento de Ciência da Computação. Uma a cada 68 crianças, na faixa dos 8 anos, pode ter autismo, de acordo com uma pesquisa do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), do governo dos Estados Unidos.
Os softwares do Projeto Participar são utilizados por mais de 2 mil escolas no Brasil, em Portugal e em Angola. Um desses colégios é justamente onde Mara Martins dá aulas. Pedagoga e Mestre em Psicologia, a professora trabalha com autistas há 15 anos. "Eles têm características específicas que precisam ser levadas em consideração na elaboração do planejamento, material ou software educacional."
Mara utiliza o Aproximar e diz ver grande mudança no comportamento de seus alunos. Ela conta que, no início, a ferramenta era apenas um complemento das atividades trabalhadas, mas isso foi mudando. "Hoje também é um instrumento motivador", afirma. "Os estudantes gostam muito de utilizar o software e isso facilita bastante o trabalho pedagógico."

 

 

Fonte: O Estado de S. Paulo

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