domingo, 8 de abril de 2018


Preso, ex-presidente Lula não poderá receber visita de políticos.



(Foto: Mauro Pimentel/AFP)


Um misto de estratégia eleitoral, improviso na negociação e emoção política marcaram o dia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva se entregou à Polícia Federal. Entre o vai não vai do petista, os próprios militantes barraram, ao longo da tarde, ainda em São Bernardo do Campo (SP), a saída do carro que o levaria ao aeroporto. Se Lula tinha cumprido o plano de transformar a prisão em um ato heroico — primeiro, se recusando a se entregar no prazo estabelecido pelo juiz Sérgio Moro e, depois, fazendo um discurso forte para os partidários —, a saída de São Paulo se transformou numa novela de roteiro ruim, que terminou às 18h42, quando Lula deixou o sindicato a pé e entrou em um carro da PF que o esperava.

Como o Correio mostrou ainda na tarde da última quinta-feira, a estratégia de Lula era segurar ao máximo a rendição e documentar, em vídeos e fotos, todos os passos antes da prisão, que só ocorreria depois do prazo estabelecido pelo juiz paranaense, descumprido às 17h da quinta-feira.

Às 11h de ontem, frustrou-se a última cartada da defesa: um novo pedido de habeas corpus foi recusado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Caso ele resistisse a ir para a cadeia, poderia ter a prisão preventiva decretada, o que tornaria mais difícil a obtenção de eventuais recursos que possam  libertá-lo., ele

Às 12h15, Lula fez o discurso em seguida ao ato religioso em homenagem à mulher, dona Marisa, morta em fevereiro de 2017. A partir dali, o plano era se entregar. Mas os militantes barraram a saída do carro, o que fez com que Lula voltasse ao prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

A PF, então, concedeu o prazo de meia hora para que ele se apresentasse às viaturas que estavam estacionadas em uma rua ao lado do prédio onde fica a sede do Sindicato dos Metalúrgicos.

Com a rendição, o petista seguiu no comboio policial até a sede da corporação, em um trajeto de quase uma hora. De lá, foi levado pelo helicóptero da Polícia Militar até o Aeroporto de Congonhas, de onde partiu, às 21h, para Curitiba em um avião monomotor.

Em Curitiba, agentes da Polícia Federal foram convocados para aguardar a chegada do ex-presidente. O avião pousou às 22h no Aeroporto Afonso Pena. Dali, ele  seguiu de helicóptero para o Diretoria da Polícia Federal, aonde chegou às 22h30.

Manifestantes favoráveis e contrários ao ex-presidente aguardavam  na rua diante do edifício. Os que defendem a prisão de Lula soltaram fogos de artifício.

Uma ordem judicial determinava que os manifestantes ficassem a mais de 100m do portão do edifício. Antes que se iniciassem as conversas para o cumprimento da ordem, porém, a Polícia Federal lançou oito bombas de efeito moral e spray de pimenta. Algumas crianças, que acompanhavam os pais, foram atingidas pelo gás. Oito delas foram atendidas pelos bombeiros, incluindo quatro crianças — uma delas em estado grave.

O argumentou foi de que o uso de força foi necessário porque a PF apontou risco de o portão fosse derrubado. Mas soldados da própria PM afirmaram que o uso de força pela PF foi excessivo. Antes do uso das bombas de efeito moral, porém, o clima era de relativa tranquilidade.

Horas antes, a 500km dali, em São Bernardo do Campo, dirigentes petistas tentavam convencer os militantes a desobstruir a saída de Lula, quase seis horas depois do discurso do ex-presidente, que falou para uma multidão de militantes durante 55 minutos. Em um trio elétrico, o petista manteve um discurso parecido com o que já pregava nos últimos meses, criticando o juiz Sérgio Moro. “Eles querem que eu não participe como presidente da República em 2018. Eles querem ver o Lula de volta, porque pobre, na cabeça deles, não tem direito. O outro sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso.”

Ao longo do discurso, Lula fez uma série de agradecimentos a aliados, pré-candidatos, sindicalistas. Também aproveitou para celebrar a nova fase política do país, citando os pré-candidatos à Presidência da República Manuela d’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (Psol). Como Lula deverá ser impedido de participar do pleito de outubro pela  Lei da Ficha Limpa, o PT deve lançar como candidato ao Planalto o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que também estava no palanque.




Fonte: Correio Braziliense

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