A nova partícula que
pode mudar o que sabemos sobre o Universo.
O Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla
em inglês) - um acelerador de partículas gigantesco que fica na fronteira entre
a França e a Suíça - causou fortes emoções entre físicos teóricos, uma
comunidade que geralmente é muito cautelosa quando se trata de novas
descobertas.
O motivo:
"batidinhas" detectadas pelo Grande Colisor de Hádrons. Essas
batidas, evidenciadas nos dados que resultam da aceleração dos prótons, podem
sinalizar a existência de uma nova e desconhecida partícula seis vezes maior do
que o Bóson de Higgs (a chamada "partícula de Deus").
E isso, para o
físico teórico Gian Giudice, significaria "uma porta para um mundo
desconhecido e inexplorado".
"Não é a
confirmação de uma teoria já estabelecida", disse à revista New Scientist
o pesquisador, que também é trabalha na Organização Europeia para Investigação
Nuclear (CERN).
A emoção dos
cientistas começou quando, em dezembro de 2015, os dois laboratórios que
trabalham no LHC de forma independente registraram os mesmos dados depois de
colocar o colisor para funcionar praticamente na capacidade máxima (o dobro de
energia necessária para detectar o Bóson de Higgs).
Os dados
registrados não podem ser explicados com o que se sabe até hoje das leis da
física.
Depois do anúncio
desses novos dados foram publicados cerca de 280 ensaios que tentam explicar o
que pode ser esse sinal - e nenhum deles descartou a teoria de que se trata de
uma nova partícula.
Alguns cientistas
sugerem que a partícula pode ser uma prima pesada do Bóson de Higgs, descoberto
em 2012 e que explica por que a matéria tem massa.
Outros
apresentaram a hipótese de o Bóson de Higgs ser feito de partículas menores. E
ainda há o grupo dos que pensam que essas "batidinhas" podem ser de
um gráviton, a partícula encarregada de transmitir a força da gravidade.
Se realmente for
um gráviton, essa descoberta será um marco, porque até hoje não tinha sido
possível conciliar a gravidade com o modelo padrão da física de partículas.
Extraordinário?
Para os especialistas, o fato de que
ninguém conseguiu refutar o que os físicos detectaram é um sinal de que podemos
estar perto de descobrir algo extraordinário.
"Se isso se provar verdadeiro, será uma (nota) dez
na escala Richter dos físicos de partículas", disse ao jornal britânico
The Guardian o especialista John Ellis, do King's College de Londres. Ele
também já foi chefe do departamento de teoria da Organização Europeia para a
Investigação Nuclear. "Seria a ponta de um iceberg de novas formas de
matéria."
Mesmo com toda a animação de Ellis, os
cientistas não querem se precipitar.
Quando o anúncio
foi feito pela primeira vez, alguns pensaram que tudo não passava de uma
terrível coincidência que aconteceu devido à forma como o LHC funciona.
Duas máquinas de raios
de prótons são aceleradas chegando quase à velocidade da luz. Elas vão em
direções diferentes e se chocam em quatro pontos, criando padrões de dados
diferentes.
Essas diferenças,
batidas ou perturbações na estatística são o que permitem demonstrar a presença
de partículas.
Mas estamos
falando de bilhões de perturbações registradas a cada experimento, o que torna
provável um erro estatístico.
Porém, o fato de
que os dois laboratórios tenham detectado a mesma batida é o que faz com que os
cientistas prestem mais atenção ao tema.
Boas notícias
Além disso, recentemente os cientistas dos
laboratórios CMC e Atlas apresentaram novas provas depois de refinar e
recalibrar seus resultados.
E nenhuma das
equipes pôde atribuir a anomalia detectada a um eventual erro estatístico.
São boas notícias
para os especialistas que acreditam que essa descoberta seja o início de algo
muito grande.
O lado ruim é que
nenhum dos laboratórios conseguiu explicar o que é esta misteriosa partícula.
São necessárias mais experiências para qualificar o evento como um
"descobrimento".
O lado bom é que
não será preciso esperar muito para ver o fim da história.
Nesta semana, o
Grande Colisor de Hádrons sairá de seu período de hibernação para voltar a
disparar prótons em direções diferentes.
Nos próximos meses
o colisor oferecerá o dobro de informação em comparação ao que os cientistas
têm até agora.
E se estima que,
em agosto, eles poderão saber o que é essa nova e promissora partícula.
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